Quando olhamos uma passarela, uma campanha de moda ou até uma simples blusa exposta em uma loja, é fácil pensar que tudo se resume à peça em si. Mas por trás de cada roupa existe uma estrutura complexa, uma verdadeira cadeia hierárquica que une criatividade, estratégia, gestão, costura e propósito.

A indústria da moda é como uma orquestra: cada instrumento tem seu papel, e o resultado final depende da harmonia entre todos. Aqui, vamos desvendar quem faz o quê dentro de uma marca, do fundador ao diretor criativo, passando pelos bastidores da produção, e mostrar como esse entendimento pode transformar a forma como você enxerga o seu próprio trabalho.

Por que a moda precisa de hierarquias

Moda não é apenas estética. É também negócio, comunicação e identidade. E como qualquer estrutura complexa, precisa de organização para funcionar. As hierarquias ajudam a definir quem sonha, quem planeja e quem executa — mantendo a coerência entre a visão da marca, o produto final e o desejo do público. Sem papéis claros, o risco é perder consistência: coleções desconectadas, mensagens confusas, desperdício de tempo e recursos. Por isso, as marcas bem estruturadas costumam ter uma divisão funcional entre gestão, criação, produção e comunicação, cada uma com suas responsabilidades bem definidas.

Os principais cargos e suas funções na moda

Fundador(a): o DNA e o propósito

Toda marca nasce de uma visão. O fundador é quem cria essa essência — o propósito, os valores e a filosofia que sustentam tudo. Ele decide o “porquê” da marca existir e qual tipo de transformação quer gerar no mundo (ou no guarda-roupa das pessoas).

Em muitas marcas de moda, o fundador é também designer (como Coco Chanel, Yves Saint Laurent). Em outras, ele é um empreendedor que constrói o negócio e contrata criadores para dar forma à visão. Se o diretor criativo muda, o DNA do fundador ainda continua lá — invisível, mas presente em cada detalhe.

Diretor Criativo: o guardião da estética

Diretor Criativo: o guardião da estética

O diretor criativo é o cérebro artístico da marca. Ele interpreta o propósito criado pelo fundador e o traduz em coleções, campanhas, desfiles e narrativas visuais. Mais do que desenhar roupas, ele define o posicionamento estético da marca: quais cores expressam sua identidade, qual é o tom emocional da coleção e que mensagem será passada ao público. Em marcas de luxo, o diretor criativo é quase uma celebridade — porque a sua visão molda tendências, cria comportamentos e define o que o mundo vai desejar vestir nos próximos meses. Mas esse papel também existe em marcas menores: é quem mantém a coerência visual e conceitual, mesmo quando a equipe muda.

“O diretor criativo é quem transforma ideia em desejo. É o elo entre o que a marca acredita e o que o público sonha em vestir.”

Nos últimos anos, alguns nomes se destacaram e redefiniram o papel do diretor criativo na moda global:

Pierpaolo Piccioli (Valentino) – Um dos nomes mais respeitados da alta-costura contemporânea. É conhecido por sua abordagem poética e humana da moda, unindo leveza, inclusão e emoção em cada coleção.

Maria Grazia Chiuri (Dior) – Primeira mulher a liderar a direção criativa da Dior, Chiuri é referência por suas coleções com discurso feminista e por transformar a marca em um símbolo de empoderamento.

Alessandro Michele (ex-Gucci) – Deixou a Gucci em 2022, mas marcou uma era com seu estilo maximalista, vintage e altamente simbólico, que redefiniu o conceito de luxo contemporâneo.

Demna Gvasalia (Balenciaga) – Ícone do “anti-fashion”. Mistura ironia, crítica social e estética de rua em desfiles que desafiam o status quo da moda.

Jonathan Anderson (Loewe e JW Anderson) – Um dos criadores mais criativos da atualidade. Combina arte, design e humor em suas coleções, sempre explorando novas texturas e construções.

Virginie Viard (Chanel) – Ex-braço direito de Karl Lagerfeld, hoje comanda a Chanel mantendo a herança clássica da maison, mas suavizando o tom e valorizando a feminilidade moderna.

Anthony Vaccarello (Saint Laurent) – Conhecido por suas linhas precisas, elegantes e sensuais, trouxe uma estética de força e minimalismo que consolidou o DNA da marca.

Daniel Roseberry (Schiaparelli) – Um dos nomes mais artísticos do momento, mistura surrealismo e escultura nas roupas, criando peças que parecem obras de arte.

Matthieu Blazy (Bottega Veneta) – Reconhecido por seu trabalho artesanal impecável, traduz luxo silencioso e sofisticação discreta — uma das tendências mais fortes da atualidade.

Esses diretores representam diferentes visões de criatividade: uns transformam a moda em arte; outros, em discurso social; outros, em produto comercialmente desejável. Mas todos compartilham um traço em comum — a capacidade de narrar histórias através de roupas.

Equipe de design, modelagem e costura: o coração que dá forma

A equipe de design, modelagem e costura transforma ideias em realidade. Enquanto o diretor criativo define o conceito, são esses profissionais que o traduzem em tecidos, moldes e acabamentos. Aqui nasce a técnica, o toque e a alma da roupa.

O modelista analisa proporções, caimento e estrutura; a costureira traz à vida cada curva e detalhe com precisão. São elas que, muitas vezes, salvam uma coleção — transformando o impossível do papel em algo real e vestível.

CEO ou Diretor Executivo: o cérebro estratégico

Toda marca precisa de alguém que pense no negócio. O CEO (Chief Executive Officer) é quem garante que a criatividade não se perca do propósito financeiro e da sustentabilidade da marca. Ele cuida de planejamento, metas, investimentos, equipe, fornecedores e estratégias de crescimento. É quem transforma a inspiração em um modelo de negócio viável — afinal, sem boa gestão, até a melhor ideia criativa naufraga. Em algumas empresas, fundador e CEO são a mesma pessoa. Em outras, o criador se dedica à arte, enquanto o executivo foca no negócio.

O equilíbrio entre os dois é o que mantém a moda viva e lucrativa.

Diretor de Arte, Comunicação e Marketing: quem conta a história

Depois que a peça é criada, é preciso contá-la ao mundo. O diretor de arte define o visual das campanhas, o clima das fotos, a linguagem visual da marca. O marketing constrói as pontes entre produto e público: define estratégias de lançamento, campanhas sazonais, presença nas redes sociais e relacionamento com clientes. A comunicação é quem dá voz à marca — e hoje, em tempos de redes sociais, é também quem cuida da autenticidade e da proximidade com o público. É aqui que a estética encontra a emoção.

E o que isso tem a ver com quem costura ou modela?

Tudo.

Entender as hierarquias da moda é compreender onde o seu trabalho se encaixa na grande engrenagem criativa. Quando você aprende modelagem e costura, está ocupando o espaço de quem transforma conceito em realidade. Mas se você também entende estética, narrativa e propósito, passa a pensar como uma diretora criativa — mesmo que o seu ateliê seja pequeno. Isso te coloca em outro nível: o de quem cria moda com consciência, e não apenas reproduz tendências.

A indústria da moda é feita de muitos papéis — e todos são essenciais. Mas o mais importante é compreender qual papel você quer desempenhar na sua trajetória. Ser a executora de uma ideia? Ser a criadora da sua própria marca? Ou unir os dois mundos — técnica e visão — para construir algo com propósito?

Na Comunidade Inaá, acreditamos que toda mulher pode ser autora da própria história — dominando a técnica da costura, entendendo a estrutura da moda e se posicionando no lugar que quiser ocupar dentro dela. Porque entender a hierarquia é o primeiro passo para liderar o seu próprio caminho.