Antes mesmo de cortar o molde, vem uma das decisões mais importantes de toda peça: a escolha do tecido. E para fazer essa escolha com segurança, você precisa conhecer a fundo os fundamentos dos tecidos.
1. O que é tecido?
Tecidos são superfícies flexíveis formadas pela interligação de fios que podem ser feitos de fibras naturais, artificiais ou sintéticas. Essas superfícies servem para a confecção de roupas, itens de decoração, objetos utilitários, entre outros usos. A qualidade, comportamento e aplicação dos tecidos dependem de três fatores principais: A origem da fibra (natural, artificial ou sintética), O tipo de fio (torção, espessura, acabamento) e a forma como esses fios são estruturados (trama).
2. Tipos de fibras: a origem do tecido
A fibra é a unidade básica que compõe o fio, e a classificação das fibras impacta diretamente no comportamento do tecido.
Naturais: Extraídas diretamente da natureza, sem transformação química. Podem ser:
Vegetais: algodão, linho, rami, juta. São respiráveis, hipoalergênicas e biodegradáveis.
Animais: seda (casulo do bicho-da-seda), lã (ovelha), alpaca, cashmere. Têm bom isolamento térmico e toque nobre.
Exemplos:
O algodão é um tecido excelente para iniciantes: fácil de costurar, tem boa respirabilidade e alta aceitação pelo corpo. Já o linho, uma fibra longa e resistente, apresenta toque seco e um aspecto naturalmente rústico. A seda, por sua vez, é conhecida pelo toque luxuoso e caimento fluido, mas exige mais habilidade no manuseio, sendo menos indicada para quem está começando. A lã é ideal para climas frios e pode variar do peso leve ao pesado, oferecendo diferentes possibilidades de uso.
Entre os tecidos artificiais — que são derivados de fontes naturais como celulose ou bambu, mas passam por processos químicos para se tornarem fios — destaca-se a viscose, com caimento fluido e toque macio, ótima para vestidos, saias e blusas. O modal, da mesma família, é mais resistente e não encolhe com facilidade. Já o Tencel (ou Lyocell) se destaca por ser uma opção sustentável, leve e com toque sedoso, ideal para quem busca uma moda mais consciente.
Os tecidos sintéticos, por outro lado, são criados em laboratório a partir de derivados do petróleo. Eles são duráveis, elásticos e resistentes, embora tenham baixa absorção de suor. O poliéster é um dos mais comuns: resistente, de secagem rápida e amplamente utilizado. O nylon é muito leve e resistente à abrasão, sendo comum em roupas esportivas. Já o elastano (também conhecido como spandex ou Lycra) é usado em pequenas proporções em misturas, para garantir elasticidade às peças.
Por fim, as misturas de fibras são bastante comuns na indústria têxtil. Tecidos que combinam, por exemplo, algodão com poliéster, buscam unir o conforto da fibra natural com a durabilidade e praticidade da fibra sintética.

3. Tramas e estruturas têxteis
A forma como os fios são entrelaçados ou unidos define a estrutura do tecido. Os principais tipos são:
● Tecido plano (tecidos tramados): Fios se cruzam em ângulo reto: trama (horizontal) e urdume (vertical). Possuem pouca elasticidade.Precisam de acabamento nas bordas para não desfiar. Ex: tricoline, cetim, sarja, linho, crepe.
● Malha (tecidos de ponto): Fios formam laçadas em vez de cruzamentos. Alta elasticidade, conforto térmico e liberdade de movimento. Ex: viscolycra, cotton, moletom, ribana, malha fria.
● Não-tecido (TNT): Fibras unidas por calor, pressão ou adesivos. Não são considerados “tecidos” tecnicamente. Ex: TNT, feltro industrial.
Para iniciantes, tecidos planos como tricoline ou popeline facilitam a modelagem e costura.
4. Gramatura, caimento e toque
Esses aspectos definem a sensação da peça no corpo e seu acabamento visual.
Gramatura: peso do tecido em gramas por metro quadrado (g/m²).
Leves: <150g/m² (voil, musseline)
Médios: 150–300g/m² (viscose, tricoline)
Pesados: >300g/m² (jeans, sarja)
Caimento: capacidade do tecido de seguir a forma do corpo ou da estrutura moldada.
Fluido: viscose, seda, chiffon
Estruturado: sarja, linho, gabardine
Toque: sensação ao encostar na pele (aveludado, seco, sedoso, plástico etc)

5. Como escolher o tecido ideal?
Para escolher o tecido ideal para o seu projeto, é importante considerar o tipo de peça que será confeccionada, como vestidos, saias, blusas, calças, moda praia ou lingerie, pois cada categoria exige características específicas em termos de estrutura, elasticidade e caimento. Além disso, é fundamental pensar na função da peça: se será usada no dia a dia, em festas, no ambiente de trabalho, se exige conforto térmico ou liberdade de movimento. Outro fator determinante é o seu nível de habilidade na costura. Tecidos escorregadios, finos ou com alta elasticidade, como seda ou malha fria, costumam ser mais difíceis de manusear, cortar e costurar, sendo mais indicados para costureiras com mais experiência. Ao testar um molde novo, a dica é optar por tecidos com caimento médio, estrutura estável e fácil manuseio, como tricoline ou viscose encorpada, que oferecem mais segurança no processo de aprendizagem.
6. Dicas práticas para o ateliê
Antes de iniciar qualquer projeto de costura, é essencial cuidar bem do tecido. Sempre lave o tecido antes de cortar, especialmente os de fibras naturais, para evitar surpresas com encolhimento após a confecção. Passe-o cuidadosamente antes do corte, garantindo que esteja plano e sem vincos que possam distorcer o molde. No armazenamento, mantenha os tecidos longe da luz direta para evitar o amarelamento, principalmente dos tecidos claros. Ao costurar, escolha alfinetes adequados para cada tipo de fibra, evitando danos ou furos desnecessários. Uma boa prática é manter amostras dos tecidos catalogadas, com informações sobre composição e função, facilitando futuras escolhas e combinações.
A costura vai muito além da técnica: ela começa na escolha consciente do tecido. Conhecer os fundamentos têxteis não só evita erros, como também amplia sua liberdade criativa. Quando você entende as propriedades e comportamentos de cada material, costura com mais confiança, respeitando o seu corpo, o seu projeto e, acima de tudo, o seu estilo.
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