“Moda é linguagem. E, como toda linguagem, carrega escolhas. Algumas falam de pressa, consumo e descarte. Outras falam de tempo, cuidado e permanência. Entre o fast fashion e o slow fashion, existe mais do que estilo — existe uma decisão ética, estética e afetiva sobre como habitamos o mundo.”
O que é Fast Fashion?
O termo fast fashion, que pode ser traduzido como “moda rápida”, surgiu nos anos 1990, num momento em que grandes varejistas de moda perceberam que poderiam reproduzir — em velocidade recorde — tendências das passarelas internacionais com custos baixíssimos.
Essa lógica transformou a maneira como consumimos roupas. Ao invés de duas coleções por ano, as marcas passaram a lançar novas peças toda semana, incentivando o consumo constante com preços acessíveis e novidades constantes.
As consequências dessa pressa:
Ambientais: A indústria da moda é uma das que mais poluem no mundo. Para manter o ritmo do fast fashion, rios são contaminados por corantes, o uso de água é exorbitante (uma camiseta consome cerca de 2.700 litros para ser feita!) e toneladas de roupas são descartadas anualmente.
Sociais: As roupas que chegam às vitrines por preços irrisórios muitas vezes são feitas por pessoas em situações análogas à escravidão, com jornadas de trabalho exaustivas e salários indignos. A tragédia do edifício Rana Plaza, em Bangladesh (2013), escancarou essas condições ao mundo, quando mais de 1.100 pessoas morreram trabalhando para marcas internacionais.
Culturais e emocionais: Ao transformar moda em algo descartável, o fast fashion nos distancia do valor simbólico das roupas. Vestir-se deixa de ser expressão e se torna repetição. As roupas perdem significado — e nós também.
O que é Slow Fashion?
Em resposta a esse modelo acelerado e insustentável, nasce o slow fashion — um movimento que resgata o ritmo natural das coisas. Costurado com ética e consciência, ele propõe uma moda mais humana, que respeita o tempo de quem faz, de quem usa e do próprio planeta. O termo foi cunhado por Kate Fletcher, uma das maiores pesquisadoras de moda sustentável, que propôs uma mudança no paradigma da produção e do consumo de roupas. Inspirado no movimento slow food, o slow fashion defende uma moda que valoriza:
Qualidade sobre quantidade, Processos artesanais e locais, Transparência em toda a cadeia produtiva, Durabilidade, reparo e customização e Relacionamento afetivo com o vestir. É sobre pensar antes de comprar. Sobre saber quem fez. Sobre costurar um mundo onde menos é mais — mais justo, mais belo, mais nosso.
A costura como resistência
Acreditamos que costurar é um ato revolucionário. Quando você aprende a fazer sua própria roupa, você recupera a autonomia sobre o seu corpo, seu estilo e sua narrativa. Cada ponto que você dá é também um ponto fora da curva desse sistema que quer te transformar apenas em consumidora. Você se torna autora do seu vestir. Você desacelera. Valoriza o processo e respeita o tempo.
Enquanto o fast fashion corre, o slow fashion convida a permanecer. Enquanto um promete tendências, o outro entrega essência. Enquanto um apaga histórias, o outro borda memórias.
Como praticar o Slow Fashion na sua vida?
A boa notícia é que você pode ser mais consciente a cada dia. Aqui vão algumas práticas simples que costuram o slow fashion ao seu cotidiano:
Conheça a origem das suas roupas: pesquise marcas, pergunte, questione.
Valorize o feito à mão: compre de costureiras locais, brechós ou pequenas marcas autorais.
Aprenda a costurar (ou continue aprendendo!): além de econômico, é libertador.
Repare, transforme, reaproveite: uma peça pode ter muitas vidas.
Invista em peças atemporais e versáteis: moda não precisa ser efêmera para ser interessante.
Use até o fim e depois doe ou recicle: roupas também têm ciclos.
Escolher o que vestir é também escolher o que apoia. Ao final, entre o slow e o fast, a pergunta que fica é: o que você quer sustentar com o seu vestir? Seja você costureira, criadora ou aprendiz, existe força nas suas mãos. Existe uma moda inteira esperando ser redesenhada com afeto, coragem e presença.
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